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Os números de 15/9

18.09.19

Crónica para o "i".

Foto de Rita Neves

 

Sabemos contar os pinguins da Antártida a partir do espaço. Não sabemos contar os desempregados, crianças, estudantes, domésticas, bolseiros, funcionários públicos, trabalhadores a recibo verde, de “pequenas e médias empresas”, de grandes empresas, reformados e um ou outro turista levado nas enxurradas de gente do passado sábado.

 

A paz social acabou e não está em questão a importância dos rios de gente, nem a força de um “roubaram- -me a juventude na guerra e agora o ordenado na reforma”. Aliás, sem que esta discussão de números seja sobre o sexo dos anjos, reconheça-se que tem algo de campeonato de pirilaus. Mas com tanta sondagem à boca das urnas, tese de jornal da noite por flutuações de décimas nos índices de criminalidade e tanto inquérito para medir a “felicidade” dos povos, é frustrante que a histeria de mensuração não nos dê ainda um valor e incerteza associada para as manifestações, em vez dos tradicionais dois delírios em forma de número fornecidos por organizadores e as forças da ordem. Reparem: se é verdade que só cegueira ideológica ou incapacidade em lidar com muitos zeros levou um indivíduo a escrever que em Lisboa se manifestaram 10 000 pessoas, duvido também que 1 milhão de pessoas tenha vindo à rua no país inteiro. Quantas foram? Ninguém sabe. Basta. Basta também de imprecisão.

 

Com boas imagens, este exercício seria uma brincadeira de miúdos (ver 1,2,3,4,5). Mas se forem miúdos universitários ficarei mais descansado. Nerds do país, uni-vos! Não serão os jornalistas a apurar estes números e estamos a perder uma oportunidade para testar e divulgar metodologias, métodos de amostragem, programas de reconhecimento de padrões, etc. Arranquem com um projecto extracurricular, arregimentem voluntários entre colegas, desenrasquem-se para obter câmaras de filmar, etc. , e preparem- -se para respostas em tempo real. A 29 de Setembro temos outra “manif”. Organizem-se e aparecerão na TV.

 

Adenda: as ferramentas mais simpáticas para fazer estimativas grosseiras são as que medem áreas em mapas (esta é das melhores porque o mapa aparece como uma fotografia); também há versões que funcionam nos telemóveis. Estimada a área real, o que pode ser mais complicado do que parece, a arte passa a estar:

 

1) na escolha da densidade (ou densidades, porque é possível e faz sentido decompor a área em parcelas com diferentes densidades) - 2 pessoas por m2 na Praça de Espanha e 0.5 pessoa/m2 nas artérias de acesso?  Ajuda olhar com atenção para os detalhes nas fotografias aéreas, nomeadamente se forem fotos de Lisboa e não de Istambul.

 

2) no cálculo dos fluxos (quantos entram e quantos saem por unidade de tempo). Para isso é importante olhar com atenção para os vídeos que mostram as pessoas em movimento nas avenidas e recolher testemunhos.

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)


3 comentários

De fraufromatlantida a 21.09.2012 às 10:24

Parece-me uma questão bastante pertinente: acho que toda a gente está um pouco baralhada. Por exemplo, para Lisbis, no dia da manif, houvi falar em meio milhão, no dia seguinte em 100 000. Em que ficamos?
Sugiro falar-se com biólogos da área da ecologia, que estão habituadíssimos a fazer contagens dessas. Dá-se na cadeira com o mesmo nome, mas já lá vão uns anos e não pratiquei senão nas aulas, por isso, cá vai o resultado de uma pesquisa rápida:

http://professor.ucg.br/siteDocente/admin/arquivosUpload/3909/material/Aulas%201%20e%202.pdf

Ver slide 27 a 30.

De Seurat a 26.09.2012 às 14:08

Seria possível aumentar a robustez e o throughput da análise recorrendo a software de análise quantitativa de imagem. Em que as pessoas nas fotografias seriam os "objectos" a quantificar automaticamente e o menos enviesada possível. De modo semelhante (recorrendo a outras propriedades dos mesmos softwares) seria possível medir o fluxo de pessoas (in and out) para cada área em que a captação de imagem estivesse disponível. Depois, a partir destes dados é que se calcularia a densidade de participantes, de velocidade de deslocamento e outros dados pretendidos. Para além das vantagens óbvias no aumento de throughput e na diminuição no enviesamento, estes dados seriam facilmente modelizáveis (algorithm based) e extrapoláveis para outros ajuntamentos semelhantes.

De Seurat a 29.09.2012 às 13:02

Ve a estrategia que sugeri, agora explicada pelo Nuno Vasconcelos. (A ideia de "tracking de telemoveis tambem me agrada)

http://www.publico.pt/Pol%C3%ADtica/como-se-contam-multidoes-1565018

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Vasco M. Barreto

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